quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O RENDEZ-VOUS


                                                 
    

INFÂNCIA


 Este aí ao lado é o Barão de Itambi. Não tem nada a ver com o rendez-vous, só deu nome à rua. 
Era bem em frente lá de casa.  Rua Barão de Itambi, 23. Rendez-vous para executivos, embora naquela época não houvesse essa expressão. Os senhores respeitáveis entravam separados das mulheres, e estas não tinham aquela típica pinta de marafonas. Eram moças de aspecto normal, entrando numa casa normal, sempre à tarde, como para visitar uma tia normal. Só que todo mundo sabia que era uma “casa de encontros suspeitos”. Movimentação muito discreta, em nada incomodava os outros moradores da rua. Nunca se via a cafetina, tampouco nenhuma das moças morava lá. A casa era a avó dos motéis de hoje.
Tudo bem, tranquilo, até o dia em que aconteceu ‘aquilo’. Se a casa era suspeita, o movimento naquele dia foi suspeitíssimo. Um entra e sai de gente, falatório, os vizinhos, embora de butuca atenta, na encolha, porque não ficava bem a gente ficar espiando aquele tipo de coisa. A gente, não, os adultos, porque nós éramos rapidamente postos para escanteio. Enfim, foi desvendado o mistério. Um dos executivos, no afã de dar conta do recado, não conseguiu executar o planejado e acabou batendo as botas em cima da rapariga. De repente, parou com os movimentos característicos, bufou e extenuou-se. A menina achou que ele já tinha acabado, e ficou esperando que ele a livrasse do seu incômodo peso. Mas ele, nada. Como estava demorando muito, ela pediu-lhe providências, que não vieram. Só então constatou o inusitado óbito. Dizem que de cá de fora ouviram o seu grito, mas deve ser mentira. Cada um que conta, aumenta um ponto. Viram sair de dentro da casa, no meio do burburinho formado, um embrulho do tamanho de um homem, que foi colocado em um carro. E foi só.
No dia seguinte, o movimento era normal, e nunca mais se falou nisso.

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