INFÂNCIA
Na rua General Canabarro, pros lados do Colégio Militar, tinha a sorveteria do Francisquinho. Era uma festa quando sobravam cem ou duzentos réis do meu escasso dinheirinho. Cem para o picolé, dos redondos, que o retangular era mais caro, ou duzentos para a casquinha. Eu gostava de ver a máquina rodando, misturando a massa do sorvete, que era feito ali, na cara da gente.
Ao lado, tinha a barbearia.
Davam-me quatrocentos réis - aquela moeda enorme, quase do tamanho da minha mão - para eu cortar o cabelo, à la “Príncipe Danilo”. Era a conta, não tinha troco. Quando eu acabava, entrava na sorveteria e ficava só olhando para dentro da misturadora de fazer os sorvetes. Olhando e mais nada. Um dia me deram uma moeda de quinhentos réis.
Não precisa dizer que com o troco comprei um picolé. De uva. Gostava do de uva, porque eu dava um chupão mais forte e ele ficava todo branco. Gelo puro.
Num dia daqueles de calor de 40 gráus, Júlia me levou para tomar um sorvete. Quando atravessávamos a rua General Canabarro, pisei no trilho do bonde. Ele estava tão quente que queimou a sola do meu pé. Voltei dali mesmo, chorando, no colo da Júlia.
Naquele dia não teve sorvete.
Naquele dia não teve sorvete.
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