quinta-feira, 23 de junho de 2011

O ARQUEIRO ALADO





Preso ao chão,
Contempla o infinito.
Tenta alcançá-lo com seus sonhos,
Faz das estrelas o alvo das suas flechas.

Sabe que precisa caminhar,
Desvencilhar-se de raizes profundas -
- Base estéril, fruto da longa estagnação.
Sabe que cada passo
Será o arrancar de cascos plantados,
Será o desprover-se do alimento farto e cômodo
Da Mãe Terra.

Será - ainda - o fincar de novo apoio
E ver que novas raizes ressurgem...
Será mais uma vez a busca do sustento fácil,
Pela fome de chão, de base firme, de colo maternal.

Porém, cada passo,
Cada sugada no seio da mãe terra
Será também o lento surgir das tenras plumagens
Que lhes hão de substituir os braços.

Cairá, um dia, de suas mãos, o arco dos sonhos
E alvas penas de asas vigorosas
Sentirá fincadas em seus músculos fortes. Enrijecidos,
Porque alimentados da terra.

Prenúncio de largos horizontes
Então, maior será a força das asas
Do que a dos seus cascos enraizados.
E o vôo acontecerá, definitivo,
No batimento frenético dos braços transmudados.

A Mãe Terra verá elevar-se o filho amado
Sentindo na face os restos do alimento
Que se desprenderão de suas patas
Tão inúteis, agora, com suas raizes expostas...

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