domingo, 23 de outubro de 2011

Saudade


Saudade
10.out.2009
Que é saudade?
Dizem que é um sentimento que só na língua portuguesa pode ser expresso por uma palavra. Não há em nenhum outro idioma, no mundo, um sinônimo para a nossa saudade.
Para mim, não é bem assim.
Saudade tem duas definições bem distintas: uma – que não gosto, ou não aceito – quando se pensa em saudade apenas como vontade de voltar ao passado, aos “meus bons tempos”, como se costuma dizer, esquecendo que os “bons tempos” só foram bons porque, felizmente, costumamos esquecer as coisas ruins que nos aconteceram. Já a outra definição, para mim, soa como sinônimo de... lembranças. Mas lembranças boas, é claro, porque as más jamais nos trariam saudades.
Quando me recordo de lugares que me foram queridos; de locais onde usufrui momentos maravilhosos; de objetos que de alguma forma marcaram minha vida; de livros, poemas ou simplesmente textos de poucas palavras, que li com prazer; de filmes cujas cenas me emocionaram ou me alegraram; de pessoas queridas que marcaram minha vida e que, ou estão longe de mim ou já estão me esperando do outro lado; de acontecimentos do passado que me foram gratificantes, que me deram qualquer forma de prazer...  então, sinto saudades. Saudades de quando li o livro, de quando vi o filme, de como encontrei aquelas pessoas...
Mas... nunca quis voltar àqueles lugares, onde certamente as mudanças do tempo me fariam decepcionado; procuro não guardar nos armários as coisas que tanto me foram caras (às vezes não consigo...); tampouco me apraz ler mais uma vez os mesmos livros, ou ver duas vezes os mesmos filmes de que gostei.
Em minha mente apenas conservo - e mais nada - as gratas lembranças de quando pude estar com amigos ou parentes com quem há muito não convivo, relembrando-as sempre com prazer. Não me entristeço, porém, por não mais estarem eles perto de mim, mas aguardo sempre a oportunidade de revê-los, para “matar as saudades”.
Tampouco choro por aqueles queridos que partiram para a outra vida, porque sei que, mais dia menos dia, talvez, quem sabe? possa estar novamente com eles. Ainda que tomemos rumos diferentes, lembrar-nos-emos mutuamente, recordando, cada um em seu degrau da escada infinita, tudo aquilo que nos fez ser amigos de verdade.
Também não quero de volta os episódios que tenha vivido, um dia, com alegria e emoção. Jamais seriam os mesmos. Quero, sim, lembrá-los sempre, intensamente, pedindo que nunca se apaguem da minha memória. Porque as lembranças fazem parte do passado, que é o único estado de alma que permanece imutável, pois o futuro ainda não existe e o presente, a cada segundo que passa, transforma-se em passado, que fica arquivado em nós para todo o sempre.
Não concebo uma vida sem passado, sem lembranças – boas lembranças. Mas, que se mantenham vivas também as más, para que possamos sentir ainda mais de perto aquelas que nos fazem felizes. 
É isso que chamo de saudade.
  

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