quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O ARMAZEM PÃO DE AÇÚCAR


         





Era naquele prédio que hoje é brancão, lá do lado esquerdo, aí na foto.
Ficava na esquina da praia de Botafogo com a rua Farani. Naquele tempo não existiam supermercados, apenas armazéns lusitanos, que eram lojas onde se vendia de quase tudo, mesmo porque, o tudo de então era quase nada. Basta imaginar que, entre outras coisas, não existia artigos de plástico - vivia-se sem o plástico, o que hoje seria impossível.
Do lado de fora e em frente ao balcão tinha umas caixas grandes com a tampa inclinada, onde ficavam os grãos - feijão, arroz, milho, etc, e também farinha, fubá, farinha de trigo, enfim, tudo que pudesse ser vendido a granel, uma vez que nada era ensacado ou industrializado, exceto açúcar e sal. Perto da porta, em sacos de aniagem, enormes, com a borda dobrada para fora, estocava-se a batata, a cebola, os produtos mais brutos. Em saqui-nhos menores, alpiste, semente de girassol.
A geladeira era daquelas de portas de madeira com o compressor em cima, basicamente para estocar o guaraná e as cervejas e mais alguns produtos perecíveis, como manteiga a granel e quei-jos, que não raro acabavam realmente perecendo, dado a pouca eficiência do equipamento.
Nas prateleiras, as garrafas - vinagre, mel, e a “lataria”, que se resumia a salsicha tipo viena, manteiga Miramar, molho de tomate, azeite português, marmelada Colombo, queijo-de-bola Palmyra, leite condensado, sardinha (com aquela chavinha soldada na tampa, que arrebentava no meio da abertura), e mais alguma pouca coisa. Mais para trás, uns vidros grandes com ameixas secas, pickles, que só de pensar nele doía meu maxilar, lá perto das orelhas, e, boiando na salmoura, azeitonas ou tremoços. Em cima do balcão, além da balança Filizola e da máquina de moer café, o queijo curado, os ovos, estocados em cestas de arame e que eram embrulhados quatro a quatro em papel de jornal, a carne seca e rolos de fumo para mascar, com aquele cheirinho empestando todo o ambiente. Penduradas num arame, tripas de linguiça e salaminho. Atrás do balcão, um português, sempre.
E havia os cadernos. Quem inspirasse confiança ao português era “freguês de caderno”, expressão que acabou atravessando épocas. A gente levava o dito, fazia as compras e ele anotava. No fim do mês “acertava-se o caderno”, isto é, fechava-se a conta e começava tudo de novo: “Seu Joaquim, vim acertar o caderno”. Já se sabia que se ia levar de brinde uma lata de biscoito Aymoré ou meio quilo de ameixas secas. E não era para bajular o freguês, era pura cortesia.
O Rio ainda era uma cidade do interior metida a besta...    

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