quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FORMANDOS DE 58


 Quando eu cheguei já estavam todos reunidos. No mesmo local, perto da faculdade, onde nos bons tempos de estudante batíamos papo entre uma aula e outra. Faziam uma algazarra sadia, como na época em que eram um grupo de quase adolescentes semirreponsáveis, em meados de 50. Soube depois que todos os anos se encontravam para relembrar aqueles que foram, sem sombra de dúvida, os melhores anos de nossas vidas.
Para mim, entretanto, era a primeira vez, pois pelo menos naquela curiosa situação, eu estava debutando. O grupo era grande, quase todos os antigos colegas estavam presentes, trocando saudações e abraços efusivos. Alguns vinham acompanhados das esposas, outros sozinhos, mas todos com a mesma alegria que sempre caracterizava os encontros, alegria de quem não se via há muito, muito tempo.
Eu fui o último a chegar. Um tanto desconfiado, sorrindo meio amarelo, sentindo-me ao mesmo tempo veterano e calouro. Se nem mesmo sabia sobre aquele encontro... Quando entrei deparei, perto da porta, com o Antonio, com quem, na faculdade, eu formava uma dupla inseparável. Ao ver-me, ele exclamou:
- Mas olhem só quem vem chegando! 
Todos se voltaram para mim, logo envolvendo-me em carinhosos abraços de boas-vindas. Eu não esperava recepção tão calorosa, e a atitude dos colegas fez com que se dissipasse o meu desconforto inicial. Que boa gente, aquela...
Logo depois deixei de ser novidade e passei a ser não o “calouro” sem jeito e sim apenas mais um colega entre eles. Eu já estava inteiramente à vontade no meio da minha velha turma. Os assuntos eram os de sempre. Ninguém se interessava pelo que o companheiro foi ou deixou de ser, ao longo da vida. Se rico ou pobre, famoso ou obscuro,  feliz ou infeliz. Não se contavam as vantagens nem se choravam os fracassos. Estávamos irmanados não pelo que fomos, mas sim pelo que somos. Amigos, companheiros da turma de 58.
Eu e Antonio não nos víamos há muito tempo, por isso afastamo-nos um pouco daquele reboliço para pormos os assuntos em dia.
- Você demorou a chegar-se a nós, Maurício...
- É verdade, meu caro. Mas nem sempre a gente faz o que quer, não é mesmo? Na verdade, quase nunca. E vou lhe confessar uma coisa: eu nem sabia da existência dessa reunião...
- Para mim também foi surpresa, quando vim pela primeira vez. Mas, diga-se de passagem, uma bela surpresa!
- Não há dúvida, a turma está cada vez mais unida. Dá gosto ver...
Antonio bateu amistosamente nas minhas costas:
- Amigos... para sempre!
- Para sempre! - repeti. E demos uma gostosa gargalhada - Para sempre mesmo !
- E eles? - perguntou-me, apontando, com um movimento de cabeça, para um pequeno grupo que começava a tomar lugar nas mesas para o almoço.
- Estão firmes, não? - disse eu.
Antonio demorou-se, pensativo, vendo o pequeno grupo começar a ser servido pelos garçons. Não era de tristeza a sua atitude, mas talvez de frustração por não poder ir lá abraçá-los, um por um.
- Pena que não podem nos ver... Seria tão bom se todos já estivessem aqui conosco...
Achei graça naquela observação. Era um desejo sincero do Antonio, mas fiquei imaginando como seria recebida por qualquer um do pequeno grupo a sugestão do meu amigo...
Ele voltou a falar:
- Mas ao jeito deles também estão se divertindo, não é? E até que ainda estão muito bem dispostos! Acho que vai levar um bom tempo até que todos estejamos juntos por aqui...
- Você acha?
- Sim, uns quinze ou vinte anos...
- Qual o que! Muito menos... Você se esquece que até o ano passado eu estava lá comemorando com eles? E eu estava também muito “bem disposto”, no entanto, olhe-me aqui, debutando junto a vocês... Como eu disse, nem sempre é a gente que comanda o barco. Você vai ver, há de demorar muito menos do que você imagina, para estarmos todos juntos novamente...
- É... Os formandos de 58...


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