domingo, 3 de outubro de 2010

Minha Identidade





Catei minhas certidões,
Pra tirar a identidade.
Entrei no Felix Pacheco
Preenchi os formulários,
Satisfiz as exigências,
E aguardei a eternidade
Até que chegasse a data
De pegar a carteirinha
Que tinha a capacidade
De me transformar num homem
Depois de plastificada.

Enfim, eu seria alguém!
Um número, pelo menos,
Que não seria igual
A outro de mais ninguém!

No dia que foi marcado
Para a entrega da carteira
Lá estava eu na fila
De protocolo na mão.
Quando chegou minha vez
Lá veio o rapaz sorrindo
Do outro lado do balcão,
Pra me dar o documento.
- Aqui está, meu senhor :
Maurício Meyer Ferreira,
Ifp zero zero
Zero zero, zero zero.
E ainda acrescentou:
- Dígito zero.

Assustado, retruquei:
- Que é isso, meu amigo?
Quer dizer que não existo?
Como faz isso comigo?
E ele, cruzando as mãos,
Deu um sorriso sem graça,
Olhou pra mim, complacente,
E me disse, sem maldade :
- Existir, até que existe...
Mas... não tem identidade...

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