domingo, 3 de outubro de 2010

Nadinhas


                                   

A vida é difícil, sim...
Compõe-se de mil nadinhas,
Picadinhas de alfinete
Que, parecendo inocentes,
Acabam por nos ferir.
Não nos machucam a carne
Nem nos derramam o sangue
De tão pequenas que são;
Mas tocam-nos nas raízes
Que ainda não conseguimos
Extirpar do coração,
E deixam-nos cicatrizes
Difíceis de se ocultar,
Que quando menos se espera
Aparecem, doloridas,
Num gesto pouco feliz,
Num olhar sem compreensão,
Transformando um pensamento
Em qualquer palavra rude
Que não se queria ouvir...

Assim como quem recebe,
Tampouco aquele que lança
O sutil dardo de fel
Há de sentir-se feliz.
Talvez não saiba, sequer,
Por que fere seu irmão.
Por que a necessidade
De pô-lo à prova, de vê-lo
Crivado pelo aguilhão?

Mas é de ambos, a prova
E é certo que mais dia,
menos dia, a vencerão.
Ou cessam, de um lado, as flechas,
Ou aquele que as recebe
As transformará, por certo,
Em plumas, que sutilmente
Vão tocar-lhe o coração...

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